É possível ser responsável por grandes empresas e grandes projetos e mesmo assim ter tempo para sua vida pessoal?

Se grandes empreendedores conseguem, isso é possível.
Um dos segredos é saber liderar a si mesmo e contar com grandes líderes em sua equipe. Sozinho você não vai conseguir e a primeira cooperação que você precisa obter é a sua.
Para obter essa cooperação é preciso aprender sobre si mesmo porque quando você aprende sobre você, aprende também sobre o outro.
Durante toda a história vários homens se dedicaram ao autoconhecimento e a também a formação de discípulos. Esse conhecimento pode nos trazer várias lições sobre os níveis de consciência da liderança e a evolução humana.
Você pode se identificar com várias descrições do que é o ser humano nestas tradições. Uma delas é a de que todos somos duais. Possuímos um lado animal e um lado “divino”.
A partir disso, o ser consciente usaria as ferramentas que possui como “animal” na intensidade correta e iria se aproximando do seu “eu ideal” aprendendo a utilizar todo o seu potencial.

Você poderia fazer isso em seu próprio benefício e transformar seus sonhos em projetos realizados com esforço e disciplina.

Segundo alguns grandes líderes e vários sábios da história, se o seu projeto for ajudar a humanidade e o planeta, uma força maior irá cooperar com você trazendo a existência esse projeto muito mais rápido. As oportunidades e as pessoas que podem contribuir nesta realização, virão a você tornando mais fácil essa caminhada.
Pode ser que isso ocorra. Mas não é uma mágica e sim uma construção conjunta. Você pode conhecer uma pessoa que pode ser o líder que você precisa ter ao seu lado. Alguns podem ser seus mentores e outros seus mentorados.
O importante é estar atento, presente no aqui agora, percebendo que nível de consciência está você e aqueles que estão ao seu redor. Todos poderiam te ensinar algo, as vezes o que fazer e outras vezes, o que não fazer.
Eu tenho buscado aprender como ampliar a capacidade de liderar neste novo mundo e tenho aprendido inclusive com a literatura de grandes sábios do passado. Nesta minha busca encontrei um conto zen que pode nos trazer muitas lições.
As imagens eferentes aos dez momentos do conto zen apareceram pela primeira vez na sua forma atual, tal como foram redigidas pelo mestre Kuòān Shīyuǎn no século 12 .
No conto zen dos dez touros ele identifica alguns níveis de consciência que podemos encontrar entre os homens.

O interessante é que o touro aparece em várias outras tradições como sendo o “eu animal” que deve ser domado. Você deve conhecer por exemplo, o Minotauro e o Centauro. O Minotauro é aquele que a cabeça é do touro.

O centauro possui a parte superior do corpo humana. Disto também poderíamos refletir: será que sou um líder mais Minotauro ou Centauro? Mas isso fica para outro artigo.
Os trechos em negrito são do texto original que você vai encontrar em vários locais na internet.

1) Procurando o touro

“O touro, na realidade, nunca foi perdido. Então, por que procurá-lo? Tendo dado as costas à sua verdadeira natureza, o homem não pode vê-lo. Por causa de suas ilusões, ele perdeu o touro de vista.”

As pessoas que estão neste nível de consciência são aquelas que sabem que possuem um “eu animal” pois percebem que as vezes agem de forma diferente do que sabem que deveriam agir.
Platão fala de um nível anterior a esse que seria os que pensam que isso é normal e que não podem mudar. Vivem no automático. Pensam que são o próprio touro. Fazem o que é mandado por sua mente ou pelo meio externo sem raciocinar todo o tempo. Se sentem vítimas e reféns de tudo. Não tem consciência do seu potencial e nem dos seus pontos de melhoria. Seguem uma cartilha. Uma programação mental feita pelo meio ou até vinda dos seus pais e antepassados.
Mas o conto zen traz um homem que já não se identifica com alguns de seus atos e procura entender quem é esse que aparece e toma o controle de seus atos de vez em quando.
Se você tem algum liderado assim e deseja desenvolve-lo por enxergar potencial nele, entenda que precisará mostrar o seus pontos fortes e pontos de melhoria.
Ensinar não só o que ele tem que fazer, mas o porque e como. Ter paciência com sua aprendizagem que está só começando. E esse liderado pode ser você mesmo.

2) Encontrando a pista

“Através dos sutras e ensinamentos, ele vislumbra as pegadas do touro. Foi informado que, assim como diferentes vasos (de ouro) são todos basicamente do mesmo ouro, assim também cada coisa é uma manifestação do próprio ser. Mas ainda é incapaz de distinguir o bem do mal, a verdade da falsidade. Não entrou ainda pelo portão, mas vê, numa tentativa, a pista do touro.”

Os que estão nesse nível já se percebem diferentes dos outros. Podem enxergar suas capacidades e pontos de melhoria, mas não saber por completo como usar adequadamente seus talentos. Mas já começa a observar pessoas que admira e já se imagina agindo como elas.
Talvez você tenha muitos assim e até seja um deles. Para ir para o próximo nível é preciso primeiro ter consciência de onde está. Pitágoras sugeria a seus alunos analisar a cada final do dia o que poderiam ter feito de melhor como ser humano. Pode ser uma boa idéia começar por aí.

3) Primeiro vislumbre do touro

“Se ele somente escutar os sons de cada pegada, virá à realização e, naquele instante, verá a própria origem. Os seis sentidos não são diferentes desta verdadeira origem. Em todas as atividades a origem está manifestadamente presente. E análoga ao sal na água, à liga na tinta. Quando a visão interna está corretamente focada, realiza-se, que o que é visto é idêntico á origem.”
Observando os seus atos, a forma como reage, comparando com alguém mais equilibrado, a pessoa começa a perceber que os rastros que deixa mostram que suas “sombras” existem. Começa a ver o seu “eu animal”.
Refletir sobre os momentos em que perdeu o controle, seja com raiva, ódio, amor, paixão, medo, compaixão, tristeza, alegria, esperança, entusiasmo, paz e outros sentimentos é o começo da jornada.
O que será que te abala e te motiva a agir? Nesse nível a pessoa está começando a enxergar o seu touro. Também começa a usar autocontrole e percebe que tem o poder de escolher como agir e pensar.

4) Segurando o touro

“Hoje ele encontrou o touro que estava vadiando pelos campos selvagens. E verdadeiramente o pegou. Por tanto tempo se comprazeu nestes arredores que quebrar seus velhos hábitos não é fácil. Continua querendo o capim cheiroso, está ainda indócil e teimoso. Para domesticá-lo, completamente, o homem deve usar o chicote.”

Quando ampliamos a nossa consciência sobre nossos pontos de melhoria, nossas sombras e nossa força e passamos a conscientemente disciplinar nosso “touro” entramos neste estágio.
Sabemos que precisamos ficar atentos e alertas e quando nos distraímos ele assume o comando ainda.

5) Domesticando o touro

“Com o nascimento de um pensamento, outro e outro mais nascem também. A iluminação traz à realização, pois estes pensamentos são irreais, já que não surgem de nossa verdadeira natureza. Somente porque a ilusão permanece, são os pensamentos tidos como reais. Este estado de ilusão não se origina no mundo objetivo, mas em nossas próprias mentes.

Ele deve segurar o touro com força pela corda do nariz

e não permitir que vague sem cuidado.

Ele se torna limpo e claro. Sem cabrestos,

segue o dono por sua própria vontade.”

Gosto especialmente desta parte porque creio que a maioria dos grandes líderes já chegaram neste nível. Sabem que não são perfeitos, mas como possuem um certo nível de conhecimento sobre seus pontos fortes e pontos de melhoria conseguem levar o touro.
O “eu humano” já domina o animal na maior parte do tempo.

6) Indo para casa montado no touro

“A luta acabou, “ganho e perda” não mais afetam. Ele murmura canções rústicas dos montanheses e toca as cantigas simples da meninada da aldeia. Montado no lombo do touro, olha serenamente as nuvens que passam. Sua cabeça não se vira (na direção das tentações). Tente-se, como quiser, aborrecê-lo, e ele permanece imperturbável.”
Talvez a minoria já esteja neste nível. Mas podemos citar alguns. Nelson Mandela talvez seja um deles. Mas em algum nível encontramos pessoas assim que acalmam o ambiente em que estão e parecem tão obstinados e equilibrados que quase nada os tira do equilíbrio.
Eles já dominaram o desejo e a ambição de uma forma que não podem ser desviados de seus objetivos por aquele que ainda não chegou no seu nível de consciência.
Esses líderes transformam as pessoas que passam por eles e que estão abertas a aprender.
Mas não se iluda. Até Jesus teve um que o traiu e não quis aprender o caminho. Sócrates dizia que uma parteira não consegue fazer uma mulher que não está grávida dar a luz.
Mesmo que você já tenha chegado neste nível, não conseguirá transformar todos da sua equipe em líderes de si mesmos. Alguns simplesmente não querem sair dos estágios anteriores.
O níveis 7, 8, 9 e 10 talvez sejam apenas uma utopia. Mesmo assim, vale a pena conhecer.

7) O touro esquecido, o Eu sozinho

“No dharma não há duas coisas. O touro e sua natureza original. Isso ele reconhece agora. A armadilha não é mais necessária quando o coelho foi capturado, a rede se torna inútil quando o peixe foi apanhado. Como o ouro separado da escória, como a Lua que apareceu entre as nuvens, um raio de luz brilha eternamente…

“Somente com o touro ele pode chegar a casa

mas agora o touro desapareceu e só e sereno senta o homem.

O sol vermelho passa alto no céu enquanto ele sonha placidamente.

Lá embaixo do telhado de sapé jazem, sem uso, chicote e corda.”

Nesse nível, a pessoa estaria tão elevada espiritualmente que seu “eu animal” nem apareceria mais. Nenhum deslize seria cometido por egoísmo ou ganância ou qualquer outro tipo de “fome”.
Os vícios deram lugar aos bons hábitos. Experimentamos de alguma forma esse nível quando avançamos a ponto de nosso comportamento equilibrado se tornar a nova programação mental. Agora dirigir nossa mente não é dificil, é o nosso normal.

8) O touro e o EU são esquecidos

“Sumiram todos os sentimentos ilusórios e desaparecidas estão também as idéias de santidade. …

Quando este estado é realizado chega finalmente a compreensão do espírito dos antigos patriarcas.”

O homem se tornaria totalmente unido ao Divino, ao todo que só deseja o bem. Talvez possamos realizar em parte, buscando sempre o nosso bem, mas também o do outro, colocando sempre a equipe em primeiro lugar. Lembrando que o líder também é a equipe e merece também ser feliz.
No caso de um líder no mundo corporativo real, uma parte desta manifestação talvez seria conseguir gerar lucro para a empresa, ajudando o planeta e os clientes e ainda desenvolver as pessoas. Talvez seja o sonho do capitalismo mais consciente, a busca do selo ESG nas empresas.
Veja no quadro que o desenho neste nível parece não ter nada. Na verdade tudo se uniu e não há separação. Podemos experimentar isso também quando buscamos sabedoria entre pessoas que buscam o mesmo propósito. Quando encontramos um grupo que nos encaixamos porque possuem o mesmo nível de consciência e objetivos em relação ao bem da humanidade. Nos assombramos ao perceber as coincidências que nos ajudaram a chegar onde estamos e percebemos que existe uma inteligência infinita colaborando com nosso projeto.
Alguns acreditam que se temos uma boa idéia para contribuir com o planeta e não colocamos em prática, veremos outra pessoa realizando. Perceberemos que uma força maior busca alguém para trazer a existência aquilo que nos faltou coragem para fazer.

9) Voltando a origem

“Ele observa o crescer e decrescer das coisas do mundo, enquanto permanece sem esforço, num estado de tranqüilidade inalterável. “
Deste nível podemos retirar o aprendizado em relação a satisfação que experimentamos quando sabemos que fizemos o que é correto para o time e conseguimos desenvolver outros líderes, fazendo a diferença na vida das pessoas. Experimentamos a gratidão e o sabor de ver o sucesso de um liderado como se fosse nosso ou de nosso filho.
Parece que o “eu divino” nos diz: “Parabéns!! Você fez o que deveria fazer!!”
É aquele momento que sentimos esse prazer que o dinheiro não é capaz de pagar.

10) Entrando na praça do mercado

“…como sorri amplamente

sem recorrer a poderes especiais

faz com que as árvores ressequidas floresçam novamente.”

O líder pode experimentar um pouco do que diz este verso quando consegue ajudar aquele que parecia que não tinha como crescer e após passar por sua equipe se torna o que somente seu líder acreditava que ele era capaz de ser.
Enfim, talvez todos os líderes possam vivenciar esses 10 degraus de alguma forma aprimorando sua capacidade de dar e receber feedback.
Se você leu até aqui, creio que está nesta jornada, recebendo feedback da vida também.
Você pode interpretar o conto zen dentro da idéia de viver várias vidas. Mas eu prefiro experimentar na que estou vivendo, evoluir o máximo que conseguir ainda nesta vida e ajudar outros nesta jornada.
E aí, em qual passo você mais se encontrou? E onde estariam seus liderado e os seus líderes?
Se desejar ampliar sua capacidade de liderar a si mesmo e a outros, experimente também fazer uma análise de perfil comportamental. É uma forma de conhecer seus pontos fortes, pontos de melhoria, estilo de liderança e competências. A partir disso, pode também passar por um processo de coaching para encontrar a melhor forma de atingir seus objetivos e evoluir como ser humano durante a jornada. Escolha um profissional que confie. Se fizer sentido pra você, conte comigo.

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Se tiver curiosidade para saber mais sobre esse conto zen, assista essa palestra: